sábado, 1 de setembro de 2007

Entrevista de Michel Serres

A filosofia de Serres constitui-se como uma revisão da modernidade. Serres situa a filosofia centrada na imagem do sujeito legislador, filosofia inaugurada, segundo ele, na era cartesiana, como uma filosofia subjacente e comum ao empreendimento industrial ou à noção de uma ciência desinteressada. Nesse âmbito, a relação da razão com os objetos se resume à dominação e à propriedade. “A palavra-chave de Descartes resume-se na aplicação ao conhecimento científico e às intervenções técnicas do direito de propriedade, individual ou coletivo." O império dessa filosofia tem como conseqüência a perda do mundo, porque sob o seu império a natureza se reduz à natureza humana, em última instância, à razão humana. Em resumo, a filosofia cartesiana promove o esquecimento do mundo em favor da razão humana. Assim, a concepção de ciência moderna é marcada por um princípio de exclusão do mundo, isto é, o mundo e a natureza são dominados por uma razão que lhe impõe suas leis, suas regras, os seus códigos.
Toda a sua filosofia é marcada por essa conclusão e a afirmação da rede, um lugar mestiço, adquire seu pleno sentido frente a ela, uma filosofia cujo princípio não se encontra na purificação, mas na mestiçagem; uma filosofia, portanto, que acolhe a diferença e faz dela o seu objeto; uma filosofia, enfim, cujo lema não é a violência, mas sim a tolerância. “Como adquirir tolerância e não-violência, senão colocando-se no ponto de vista do outro, saber do outro lado?”

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